Há tempos, nos inícios da vida da Altair, umha pessoa adulta e, à partida, vinculada ao projeto,
insistia em que devíamos pedir subsídios para que tudo fosse de graça. Menos ainda concordava com que
crianças e adolescentes achegassem umha quota, mínima [ponhamos, 20/50 cêntimos semanais (2024)].
Naturalmente, os subsídios deveriam ser solicitados a entidades públicas e, também, a privadas.
Altair, as suas escolas, os seus agrupamentos, a sua entidade, é bom que solicitem dinheiro para o sustento
das suas atividades.
No caso das entidades públicas, esse dinheiro é de todas e, nesse todas, está também
Altair. E o estado e os seus governos podem entender (nós assim o entendemos) que parte dos impostos
devem ir destinados a ações educativas, coletivas, de impulso e participação sociais, orientadas por
valores reconhecíveis como bons para o bem-estar e os direitos das pessoas. A Carta Constitucional da
Altair é rica nesses objetivos na suas declarações de intenções. A sua prática referenda-o a cada sábado, a
cada acampamento, a cada projeto.
Os apoios de entidades privadas também são bem-vindos, sempre que não comprometam os
princípios e valores antes aludidos nem a independência da entidade; bem-vindos quando procedentes de
atividades económicas que geram excedentes que podem converter-se em colaborações com entidades
como a nossa; bem-vindos como procedentes de setores da sociedade civil que querem que atividades e
entidades como a nossa existam para o bem-comum.
Imaginemos que esses subsídios, de modo potencial ou já real, satisfizessem todas as despesas
dum agrupamento. Caberia pensar em suprimir qualquer quota. E, no entanto, do ponto de vista
pedagógico e do ponto de vista educativo e, igualmente, do ponto de vista cívico, seria um erro.
Um princípio básico da Altair é o sentido coletivo e a construção de espaços sociais sob a base dos
seus princípios e valores. Sentido e construção que são resultado das agentes que no processo
intervenhem: altaíres, famílias, alentadoras, colaboradoras de todo o tipo. Essa agência é feita através da
livre doação: de tempo, de conhecimento, de habilidades, de material, de dinheiro, de força e esforço, de
múltiplos recursos materiais e imateriais que em si mesmo tenhem um valor único: contribuir para um
bem-comum, individual e coletivo, social; alicerçam, aliás, o compromisso, o companheirismo, a
independência, a inclusão, o progresso, a melhoria, o otimismo, a satisfação da consecução de objetivos.
A quota que, na origem sustentaria os alugueres, os gastos de material, de transporte, de alimentação, de
recursos para a nossa ação, quando é excedente, pode baixar-se, se se calcular que era um gravame para o
conjunto de famílias (sobra dizer que, na Altair, quem não pode achegar recursos financeiros não os
achega e não tem que substituí-los por nengumha outra achega doutro tipo; que alguém não poda pagar
alerta-nos sobre a desigualdade e a injustiça, e deve reforçar a solidariedade e a l(ab)uta por um mundo
melhor). Se houver excedente, tem que pensar-se em que talvez outras entidades necessitem subsídios
mais do que a nossa ou pode colaborar-se com recursos próprios na promoção de novos agrupamentos ou
entidades. Manter a independência e os princípios de construção social e solidariedade são colunas
basilares da Altair e só se garantem se a entidade é dona dos seus destino(s).
Isto, que à partida está referido às pessoas adultas do mundo Altair, tem umha fundamental
implicação nas altaíres. Ver e compreender isso; entender como as adultas estão trabalhando para a
consecução e manutenção dos recursos que permitem o desenvolvimento da Altair, essa garantia
satisfatória de construção coletiva e independente, essa educação e pedagogia pola ação, é fulcral para
entender como podemos conseguir um entorno melhor, umha sociedade melhor.
E interpela-as: as altaíres deveriam ter umha quota semanal em cada grupo de idade. Naquelas idades em
que os recursos familiares proporcionem assinações económicas, umha parte, mínima, deve ser doada ao
coletivo do grupo de idade. Quanto? O exequível para que não signifique nengumha merma para elas.
Pouco; mui pouco, extraído, pedagogicamente, do gasto que a família ou ela fariam num dado contexto
semanal ou mensal num artigo de pouco valor económico (não tanto, se possível, dum dinheiro específico
recebido para tal): a metade dum chiclete ou dum gelado, segundo os casos e contextos. E tudo polos
motivos e nas condições anteriores. Por quê? Porque isso educa: indica que com recursos achegados por
cada membro, podem fazer-se investimentos valiosos para o grupo: reparar umha tenda de campanha,
comprar um saco-cama, pagar o bilhete a um museu, reforçar umha caminhada a umha fervença, ontribuir
para umha ajuda a alguém que o necessite e ajudar num momento determinado outro grupo, entidade ou
seres que o precisarem, celebrar com chocolates o final dum projeto, comprar gelados para tod@s no
carrinho da senhora Maria ao final dum dia esforçado, comprar um quadro para decorar o local, um livro
útil para a próxima aventura ou para pensar sobre problemas…
Aforrar para investir e decidir coletivamente onde investir, para o bem comum, próprio ou alheio. Complementar necessidades que
também podem ser satisfeitas com trabalhos-extra que o grupo ou o agrupamento realiza para conseguir
recursos; valorar e valorizar o sentido das cousas, crescer no sentido coletivo, solidário e austero: entender
limites e possibilidades, sentir-se plena na vida grupal de colmatar com os meios e os esforços próprios
objetivos.
A quota desse peto coletivo espelha e achega o sentido da Altair.